Sobre este espaço

Este é um espaço destinado à reflexões acerca da memória, do tempo e de histórias.. Histórias de vida, histórias inventadas, histórias... Um espaço onde a imaginação possa fluir, viajar. Um espaço também para escrever sobre minhas reflexões referentes aos meus estudos sobre arqueologia e antropologia... Antes de mais nada, uma espécie de Diário daquilo que me impulsiona, um lugar para organizar (ou tentar) meus pensamentos.. antes que eles voem por aí.

Boa exploração!

Roberta Cadaval

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Feliz Desnatal e um Próspero Ano Todo a você*

Fotografia de Cristiana Santos

É o fim do ano de 2011... e qual o significado deste fim? Ou o que representa o novo ano que chega? Lembro que, ao completar um ano da partida de meu pai, fiz uma reflexão acerca do tempo... das datas e das convenções que giram em torno do calendário Gregoriano. "Então é Natal e o Ano Novo também!" fazem parte deste universo. O mês de dezembro finda e as pessoas listam metas para o ano seguinte. Não alcançam a maioria, mas iniciam o semestre cheias de gás e esperanças de mudanças! Esse gás se esvai aos poucos e as pessoas ficam sem ânimo, torcendo para que logo chegue o novo ano. Bom, tudo bem, é um ciclo que se encerra, dando início a novas oportunidades e recomeços. Mas estas datas ficam envoltas de uma magia um tanto falsa de almas caridosas e solidárias... que logo se quebram com o novo ano que se inicia. Precisamos parar de apenas pedir e FAZER mais, o ano todo. Esta reflexão foi suscitada através da observação do comportamento alheio neste período, mas foi potencializada com um texto que a minha amiga Tié Lenzi compartilhou na sua página do Facebook, hoje pela manhã. Tié, me dei a liberdade de encerrar as atividades do meu blog em 2011 com o texto que compartilhastes conosco.. ok?!
__________________________________________________________________________________

O que me mais incomoda é o excessivo contraste entre o Natal e o resto do ano. Note: a cidade enche-se de enfeites e luminosos que piscam, como que desejando tornar-se outra que não seja a urbe cinzenta de sempre. Mas por que cargas d`água pessoas deixam de fechar os vidros de seus carros aos pedintes, cumprimentam desafetos do serviço, contribuem com instituições de caridade, trocam abraços e presentes apenas agora?

Costumo dizer que datas não passam de convenções, e que certos estavam os personagens de Lewis Carroll, que diariamente faziam festas para comemorar o Dia do Desaniversário. Afinal de contas, por que celebrar aniversários, que ocorrem apenas uma vez por ano, e ignorar os demais 364 dias?

A mensagem de fim de ano que deixo, pois, é esta: todo dia é ocasião para acreditar no amor a despeito da aleatoriedade do universo, reafirmar esperanças (inclusive as que mofam amarfanhadas no armário do olvido), evocar sementes e estrelas como símbolos de potencial e concretização, abraçar demoradamente cada pessoa querida no mínimo 42 vezes por mês, adiar sua lápide e, principalmente, tratar de ser feliz.

Feliz Desnatal e um Próspero Ano Todo a você!

(Alexandre Inagaki)
__________________________________________________________________________________

Então encerro estes devaneios soltos, desejando que sejamos mais vibrantes, mais amantes, mais felizes e iluminados...
Que tenhamos alma de criança, diante da magia existente em uma bolha de sabão...
Que tenhamos mais paz e poesia neste novo ciclo de oportunidades...
E que saibamos aproveitá-las, a cada dia do ano!  



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Por entre praças.

No último domingo curti um lindo dia de sol, de um colorido único e de uma alegria ímpar. Na beira da praia de São Lourenço, molhando os pés na lagoa que refletia um azul-céu vibrante, tornei-me voyeur do tempo. Admirei a alegria que pulsava nos sorrisos das faces que por mim passavam. Alegria esta, tão pulsante e presente nos passos desses transeuntes, em meio a tantos passos leves em descansos e enérgicos em correntes! Capturei mundos. Acordei a criança que habita em mim. Fiz das cores vibrantes uma escala de cinzas, que do preto ao branco contornavam os sons. O som do balanço enferrujado pelo tempo. Ao fundo, risadas infantis, conversas entre brincadeiras. E neste momento, entendo Fernando Pessoa quando diz: "Agora ouço o vento passar. E só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." Ouvi o vento, senti a água e os pés na areia. Vi olhos brilhando de alegria. Vi crianças em seus belos mundos. Me vi criança em todos os meus reflexos. Me senti livre e fui poeta. Fiz canção na minha alma e senti... senti que por perceber tanto e assim, valeu a pena ter nascido.





sábado, 8 de outubro de 2011

Estalares em percepções

Em 7 de outubro de 2011, assisti as duas últimas conferências do 5º SIMP (Seminário Internacional de Memória e Patrimônio - Memória e esquecimento). No fundo da sala, minhas percepções começaram a interagir com o ambiente e compartilho aqui meus devaneios (palavras que tentam traduzir minhas efêmeras percepções) em meio a palestra de Jorge Quillfeldt - A natureza flexível da memória animal: esquecer é o menor de seus problemas...

___________________________________________________________________________________

Da memória de reviver o passado
Completa memória complexa
Equações, esquecimentos
Pertencimento
Analogias e fundamentações com grandes nomes
O que é ciência?
Fato comprovado
Que não relativiza
Abra-se caminho às construções de processos
Em interatividades
Questões, compreensões
Tempo de abstração
Olfato, memória
Lança estações transmissoras
Evoca, corrobora
Animais audiovisuais
Cheiro de café em dedos brancos
Cálidos espaços entre falanges
Demasiados tons em sinais
Apalusos, ecos e anéis
Estalares em percepções

Do esquecimento de viver o presente
Complexa memória completa
Metáforas, reflexões
Identidade
Aprofundamento na psique da alma
O que é tradição?
Fato vivido
Relativização
Delineando processos em conexões
Respostas, versões
Tempo de absorção
Audição, memória visual
Lança estações transmissoras
Evoca, corrobora
Animais audiovisuais
Som do burburinho em notas brandas
Caladas entoando cores
Harmonizando sons entre vocais
Andares, compartilhares labiais
Estalares em percepções

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Conexões entre artefatos.


Em um emaranhado de conexões estabeleço processos, me desenvolvo em meio a muitos retrocessos. Representações, mentalizações, percepções. Na teia de significações onde me encontro, me vejo do lado de fora, invisível, atribuindo novos significados aos elementos conectores dessa teia. Revelo, desvelo. Me desmantelo. Prolixa, como uma de minhas características. Escrevo, transponho. Não em tábula rasa, mas em um processo que visa o desenvolvimento das percepções e apreensões. Captando mundos. Retratando fatos. Conexões entre artefatos.


*escritos em uma aula sobre a interpretação das culturas -  geertz.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

À Mila.

Para Camila Born

Há dois anos atrás, neste data, tivemos de despedir-nos. Uma despedida forçada, sem tempo para abraços e afagos. Ficou o amor e a alegria de tudo que vivi ao teu lado. Ficou a referência e a força da sabedoria. Ficou o conselho não dito, ficou tudo o que foi e será sentido. Ficou impresso na alma. Virou tatuagem na pele. Ficou a luz e o canto gravado. Ficou na memória. Impresso no coração. Ficou toda a admiração. Ficaram as confidências e o conforto. Ficou o vazio sem a tua presença. Ficou a dor que virou saudade...


Mila, onde quer que estejas, obrigada por significar tanto para mim e por ter feito parte da minha vida, de um jeito muito especial! Te amo e te levarei sempre comigo, por onde quer que eu ande... Um abraço e um afago carinhoso na tua alma e no teu coração!!

sábado, 17 de setembro de 2011

Questão de significado

 Fonte da imagem: duocriação

O que a gente faz quando sente vontade de escrever em lugares inadequados? Escreve? Escreve para que as palavras não voem e se espalhem por aí. Percepções. Captar o mundo através de todos os sentidos. Agora ouço, vejo, sinto e falo através das palavras. Expresso o meu perceber, apreendo o meu entorno o transpondo no papel. Papel em nota de banco, tão útil a suportar meus pensamentos, longo devaneio em curto trajeto. Quase chego a meu destino e cá estou, observando um mundo através de molduras e um vidro que me separa. Aqui, onde me encontro agora, há um outro mundo, diferente daquele lá fora. O tempo é outro, as crianças riem, brincam e sorriem para mim. Lá fora vejo a miséria na diversidade, inferência a múltiplos mundos. O real intransponível. Logo, eis que surge a árvore do pessegueiro, indicando que esse é o caminho. Avisa que há permissão para a utopia, uma utopia que pode ser concretizada. A árvore do pessegueiro é a cor que vibra em meio a desesperança, por entre sujos tons de gri(to)s. Aí eu acredito. E escrevo porque vejo que vale a pena voltar nossos olhos com nova atenção para o que vemos. Escrevo para tentar transcrever o mundo que vejo. Um mundo que, dentro de mim, refelete cores, amores... puro encanto e poesia - questão de significado.

*devaneios que invadiram meus pensamentos em um trajeto de ônibus - Cassino/Centro, via Cidade Nova.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

[EN]CANTARES

Para Lê Andrade e Cibele Borges.


De imagens e sons
Cantos e encantos
São feitos os encontros

É arte que flui
Flutua e encontra
Encantos vibrantes
Em sons dissonantes

Vozes, cores
Magia entre acordes
Imagens pulsantes
Pedindo recortes

É o encontro 
Do canto
Poeta dançante

Que no ato
Congela
Eternizando o instante

O grande encontro
[en]cantares




quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Desfiz 24 anos


Desfiz 75 anos...

Minha formação filosófica impõe-me o uso preciso das palavras porque as palavras devem revelar o ser. E é assim, usando de forma precisa as palavras, comunico aos meus leitores que ontem, dia 15 de setembro, eu desfiz 75 anos... Haverá leitores que se apressarão a corrigir meu uso estranho, nunca visto, da palavra "desfazer", atribuindo-o, quem sabe, a um início do mal de Alzheimer. Todo mundo sabe que, para se anunciar um aniversário, o certo é dizer "fiz" tantos anos. No meu caso, "fiz" 75 anos... Mas o verbo "fazer" sugere algo que aumenta, um crescimento do ser, o artista e o artesão "fazem"... Mas, que ser aumenta com a passagem do tempo, esse monstro que devora os seus filhos? O que aumenta é o vazio. Esses anos que o aniversariante distraído anuncia como anos que ele fez são, precisamente, os anos que ele desfez, o tempo que já passou, que deixou de ser, os anos que o tempo devorou. Por isso acho um equívoco filosófico perguntar a alguém: "Quantos anos você tem?". O certo seria perguntar "quantos anos você não tem?". E ela responderia "não tenho 42 anos", "não tenho 28 anos". Porque esse número de anos indica precisamente os anos que ela não tem mais. Nos aniversários, então, a maneira correta de se dirigir ao aniversariante é perguntando-lhe "quantos anos você está desfazendo hoje?". Com base nessas reflexões filosóficas acho extremamente estranho e mesmo de mau gosto esse costume de o aniversariante soprar as velinhas acessas para que elas se reduzam a um pavio negro retorcido. Aí, nesse momento, todos gritam e riem de alegria e cantam o "Parabéns pra você", em louvor a essa "data querida..." Bachelard, no seu delicadíssimo livro "A Chama de uma Vela", que nunca será best-seller, nos lembra que uma vela que queima é uma metáfora da existência humana. Há alguma coisa de trágico na vela que queima: para iluminar, ela tem que morrer um pouco. Por isso ela chora, e suas lágrimas escorrem sobre o seu corpo sob a forma de estrias de cera. Uma vela que se apaga é uma vela que morre. Algumas velas se consomem todas, morrem de pé, têm de morrer porque a cera já se chorou toda. Outras morrem antes da hora - elas não queriam morrer -, mas veio o vento e a chama se foi. As velinhas acesas fincadas no bolo não querem morrer. Elas vão ser assassinadas por um sopro. O sopro que apaga as velas é o sopro que apaga a vida... Por isso não entendo os risos, as palmas e a alegria que se segue ao sopro que apaga as velas. Uma vela que se apaga é um sol que se põe, disse Bachelard. E todo pôr-do-sol é triste... Uma vela que se apaga anuncia um crepúsculo. Por isso eu prefiro um ritual diferente, ritual que é uma invocação. Eu acendo uma vela pedindo aos deuses que me dêem muitos anos a mais de vida, esses anos que se seguirão, que são o único tempo que realmente possuo... Assim fiz, acendi uma vela, meus amigos à minha volta. Que coisa boa é ter amigos, especialmente quando o crepúsculo e a noite se anunciam! Acho que a vida humana não se mede nem por batidas cardíacas nem por ondas cerebrais. Somos humanos, permanecemos humanos enquanto estiver acesa em nós a esperança da alegria. Desfeita a esperança da alegria, a vela se apaga e a vida perde o sentido.
 

Rubem Alves

__________________________________________________________________________

Publico aqui, hoje, esta reflexão de Rubem Alves, porque ontem, dia 24 de agosto de 2011, eu desfiz 24 anos. Compartilho desta percepção do autor em relação ao 'aniversário', mas para mim, é com grande alegria que anuncio os 24 anos que perdi.. que o tempo levou de mim. Isto porque, nestes 24 anos que se passaram, muito eu ganhei, muito eu aprendi. Foram 24 anos muito bem vividos, com inúmeras perdas, assim como o tempo que leva vorazmente as coisas da gente... mas todas as perdas me trouxeram coisas lindas. Basta saber enchergar estas coisas. E basta querer enchergar estas coisas. Por isso, ouso-me a acrescentar elementos à reflexão de Rubem Alves.. De fato, são anos que perdemos.. mas então, que olhemos para trás na busca de elementos que nos consituem o que somos no tempo presente, e que assim, vivamos nossos próximos anos buscando a felicidade e a poesia interna. Que sejamos artistas para desenhar nossas vidas com os tons mais belos e os cânticos mais sábios. Vivamos o aqui e o agora! E valorizemos todos os anos que ganhamos na perda que o tempo nos causa! E acima de tudo, sejamos felizes, sejamos intensos para que possamos aprender com todas as experiências - entre ganhos e perdas. A perda, a ausência, a saudade, o vazio.. ao contrário do que muitos pensam, são fundamentais para o nosso eterno aprendizado. Voltemos nossos olhares para isto também, buscando aqueles elementos que estão ali para que os transformemos em arte. Vida é arte. Tempo é vida! E para finalizar, compartilho uma música que fala de tempo, vida.. composição de Jorge Drexler, interpretada por Paulinho Moska. [agradeço pelo presente de poder escutá-la, em inúmeras versões singulares, no meu aniversário!]
 
Roberta Cadaval
__________________________________________________________________________
A idade do céu (Jorge Drexler, versão de Paulinho Moska)

Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...
Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...

Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Um capricho do sol
No jardim do céu...

Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu...


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sobre a beleza dos galhos secos



Árvores secas que por mim passam
Cinza tom em um cenário de cor
Gris
Árvores bailam movendo seus braços
Gritando por pausas e passos
Silenciosas cantam
E compõe um cenário
Multi-facetado
Multi-lugares, multi-tons
Multiplicadas
Estendem seus braços em emaranhados
Cruzados entre-laçados
Logo meus passos encerram o ato
Pois avançam o cenário transpondo o bailado

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Piano [adentro]

Piano Couple. Ilustração de Susan Yabase.

E onde estavam eles que não eram vistos por ninguém? Eles estavam dentro do piano, onde o som reverberava dentro deles que, juntos, formavam um pelo abraço e pela leveza de seus corpos - que flutuavam em harmonia. Naquele lugar, eles eram livres sem que ninguém os visse. Eram invisíveis. Eram únicos dentro daquele imenso piano. Tinham, assim, o mundo dentro de si, um dentro do outro. A música era eterna e a dança interminável. Podiam ficar ali pelo resto de suas vidas. Um momento que se fez eterno. Mas logo, cessa o som, as luzes se apagam e eles desaparecem diante do efêmero. Dizem que, depois desse dia, nunca mais foram os mesmos.

*What a difference a day made and the difference is you...
(What a difference a day made - Maria Grever/Stanley Adams)

*Criações/inspirações suscitadas a partir de tal música ;)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

(In)tento

M. C. Escher. Mão com esfera reflectora. 1935.

 "Pense, meu caro, no mundo que o senhor leva dentro de si, então dê a esse pensamento o nome que quiser; pode ser lembrança da própria infância ou anseio do próprio futuro - apenas preste atenção no que surge a partir de dentro e eleve-o acima de tudo o que o senhor percebe em torno. Se um acontecimento mais íntimo é digno de todo o seu amor, é nesse acontecimento que o senhor deve trabalhar de algum modo, sem perder muito tempo nem muito esforço para esclarecer sua posição em relação aos outros homens."
Rilke - cartas a um jovem poeta. (p. 56-57)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Notas matemáticas

Desde pequena sempre tive o hábito de escrever diários, registrar e organizar meus pensamentos. Aprendi com a minha mãe a sempre datá-los, para que mais tarde eu pudesse lê-los entendendo o seu contexto. Conforme eu crescia tinha, por vezes, certa curiosidade de relembrar o que eu havia feito "naquele mesmo dia" em anos anteriores. Tempo, espaço... sempre tentando entender o que é que nos separa de nós mesmos. Medos, mudanças, transformações. O ciclo do calendário Gregoriano repete-se a cada ano, mas os dias nunca são os mesmos. Já me dizia a Jéssica, olhando as fotos do nosso passeio ao Jardim Botânico, eu nunca mais vou viver esse dia feliz. Sábia menina de apenas 5 anos... já consegue entender o que (se) passa. 

Hoje, dia 28 de julho de 2011. Um dia de chuva aparentemente comum, sem nenhum acontecimento extraordinário. 28 de julho de 1987? Eu estava dentro da barriga da minha mãe, faltando menos de um mês para conhecer o mundo. 28 de julho de 1988? Faltava pouco para completar um ano.. E assim, posso tentar recapitular as 24 vezes em que o dia 28 de julho passou na minha vida. Vou lembrar? Certamente não, a não ser que recorra aos meus diários e as minhas anotações. 

28 de julho de 2010: Neste ano esta data não necessita de auxílio para ser lembrada. Hoje, 28 de julho de 2011, completa-se um ano da partida de meu pai para um plano de luz. Fim do ciclo material. Esta data realmente não precisa de ajuda para não ser esquecida. Mas afinal, é só uma data do calendário Gregoriano. Um calendário, uma estrutura simbólica construída por homens. Mas faço parte deste sistema, nasci aprendendo tal estrutura e a partir dela construo os meus próprios significados. 28 de julho de 2010... para alguns esta foi a data em que morreu Eroci. Para mim não. Esta foi a data em que meu pai renasceu. E por isso, gostaria de deixar aqui uma pequena homenagem a este ser tão grandioso para mim.. que continua me ensinando além da vida terrena e estará para sempre vivo dentro de mim. Há duas semanas atrás aproximadamente encontrei-me com ele em um sonho. Sei que nosso encontro aconteceu. E a partir deste encontro saíram os versos vinculados abaixo...


Notas Matemáticas

Esta noite sonhei com meu pai
Ele me falava de combinações, preocupações
Soluções em notas matemáticas
Números, letras, sistemas.
Me abraçou
E me alertou para prestar atenção
Depois partiu, assim como chegou
Deixando meu coração
Transbordando de alegria
Agora me resta desvelar estes sistemas
Transformá-los em acordes
Musicá-los, poetizá-los,decifrá-los
O que dizem por trás dessas notas matemáticas? 


 Aqui jaz um espírito de amor.

Pai, onde quer que estejas, que sintas o calor do meu abraço e a chama do meu amor transbordando em paz a tua alma.

Rastros

Na vida deixamos rastros. Indícios, pegadas.
Tomamos decisões o tempo todo e cada escolha determina nossas marcas e impressões no (e do!) mundo.
Encontros e desencontros. Caminhos e (des)caminhos. Opções, sensações.
Onde e em quê nos encontramos fixados?
Onde e em quê encontram-se nossos rastros?
Memórias. Virtualidades. Conexões.
No tempo ou no espaço?
Ontem ou hoje?
No amanhã.

Rastros denunciam nossas escolhas.
Escolhas traduzem o que somos.
Somos feitos de pó e luz, energia vital.
Memórias e impressões.
Entre encontros e desencontros, saudades.
Entre as aporias do efêmero que fica.

Onde e em quê nos encontramos fixados?
Onde e em quê encontram-se nossos rastros?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Resposta à 'Inconclusão' de Aline.

Hoje lia os devaneios poéticos de minha amiga, Aline. 
Dentre eles, encontrei Inconcluída, o qual ela fala sobre uma tal incompletude em relação à vida. A própria vida. Às vezes, acho que ela é um personagem. Um personagem que desenha a própria vida em meio a tantas inconclusões. No momento inconcluso em que se encontrava, Aline nos dizia..  

Em resposta, eu lhe diria: é bom sim estar "inconcluída". Pensemos no que esta palavra nos sugere. O contrário de conclusão. Não ter chegado ao fim. Processo de transformação. Experimentalismo. Aprendizado. Estar inconcluída.. Acho que estar inconcluída não é de todo ruim. Estar inconcluída, para mim,é estar em constante processo de transformação.. é viver, é experimentar. Estar 'concluída' é que é ruim! Conclusão é encerramento, fim. É estar fechado. E como é bom experimentar a vida, os processos.. a vida.. as dores.. os amores.  

Aline e eu em um dia inconcluso! (A Thamara está implícita!)

Quero estar eternamente inconcluída!
Acho que assim a vida tem mais sabor! ;)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Júpiter e Netuno

Às vezes sinto uma necessidade de escrever. Escrever sobre a vida, as sensações, dores, amores. Às vezes nem sei o quê, mas escrever! Penso que escrever é como desenhar, é friccionar a caneta ou lápis sob o papel e observar os resultados. Movimentar os dedos e criar formas, luzes e sombras. Contornos. Até narrativas. Às vezes não sabemos onde chegaremos através desse movimento. Expressões, impressões. Mímese I, mímese II, mímese III. Observar e apreender o mundo, expressar essas impressões e oferecê-las ao mundo. Mais um processo cíclico. Influência: Paul Ricoeur. Pausa. Algumas vezes nem sei do que falo, mas o que sinto me conduz a alguns caminhos, me revelam palavras. Da mesma forma que alguns recortes do cotidiano vivido brilham para mim quase gritando: Me faça eterno! Um botão é apertado e um instante congelado. Não é o meu olhar, é o meu sentir. É o meu sentir que direciona meu olhar. Gosto dos detalhes, daquilo que nem sempre é percebido. Gosto das marcas, linhas na pele, expressões que contam histórias. Júpiter e Netuno no meu mapa explicam tudo isso. Peixes explicam a musicalidade nas minhas palavras. Amor, doação, arte. Arte, vida. Em eterna construção...

sábado, 11 de junho de 2011

Diálogos

Gosto de diálogos de luz, diálogos de amor.
Klinamens gerados pelo processo singular.
Processo singular que se faz plural.
Sonhos, cantos, encontros, encantos.
Imagens.
A imagem que sobrepuja o efêmero.
Efêmero instante da saudade.
Saudade fixada pela luz no papel fotossensível.
Sensível-arte.
Arte que transborda pelos poros de processos.
Processos plurais, singulares diálogos.
Diálogos de luz, diálogos de amor.
Extra-amor.

Desvios para a liberdade


Estamos familiarizados com exposições de arte em espaços convencionais do sistema das artes como galerias e centros culturais, no entanto acreditamos na necessidade de transgredir estes espaços na busca de uma arte interventiva, como muitos artistas vêm fazendo pelas ruas e avenidas do mundo. 

Portanto, essa proposta de uma exposição na biblioteca central da FURG foi se constituindo como uma maneira de extrapolar o espaço instituído da arte em um fluxo de interações que despertem outras relações com a produção artística, ou seja, interações em outros espaços, conectados com o cotidiano das pessoas, nesse caso, especificamente, com os viventes que transitam por nossa biblioteca.

Talvez a palavra exposição não dê conta da proposta no seu intuito interventivo e descentralizado das obras, misturadas com os livros, estantes e demais elementos que constituem o corpo físico da biblioteca. Pensamos de forma interventiva, e essa é a palavra, uma exposição-intervenção, para estabelecer com as pessoas que se depararem com os trabalhos uma relação para além do espaço formal da arte, uma interação em um espaço do dia-a-dia, uma relação que possa provocar nesse ambiente, novas subjetividades, sentimentos e reflexões.

O fio condutor dos trabalhos é a temática “animal” passando pela discussão da vivissecção, do consumo de carne animal, da dominação e da superioridade sobre o outro. Esse tipo de relação tem travado grandes enfrentamentos no que diz respeito à ética do humano consigo quando da escravatura, do apartheid, das ditaduras, etc. A privação de liberdade entre humanos extrapola as relações entre congêneres com intento de dominação. Por um estilo de vida consumista e de status de superioridade se estabelece o comércio de animais, o consumo de suas peles, o uso deliberado de suas vidas para pesquisas, o enclausuramento em gaiolas, os “espetáculos” circenses e rodeios, etc.

Como manifestação artística e educativa não-formal por um ambiente e relações mais saudáveis e sem opressão, essa intervenção propõe, nesse espaço de estudos, reflexões, e conhecimentos que é a biblioteca, provocar novos pensamentos e, sobretudo, novos sentimentos em relação à VIDA!

Inspeção – Anne Farias - anneqf@gmail.com
Devir-animal – Cláudio Azevedo – claudiohifi@yahoo.com.br
Laços de Domínio Laços de Amor – karine Sanchez - kakasanchez_rs@yahoo.com.br
Aos invisíveis – Priscila Reis - reis.bio08@gmail.com
Escolhas – Roberta Cadaval - robertakdaval@hotmail.com

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Devindo.

Tree of Reveri. Josephine Wall.

 Por influência da leitura da escrita de uma memória que não se apaga¹.

Eles foram. Voltaram. Não puderam ser.
Viveram. Sentiram. Encontraram-se.
Entendendo. Percorrendo.
Eles voaram e voltaram a se ver.

¹ livro de Ângela Mucida.
Escrita de uma memória que não se apaga - envelhecimento e velhice. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu não tenho pressa

As coisas em constante movimento e eu estática a observar. Luzes distorcidas, luzes difusas, sons que se misturam ao veludo azul nos meus ouvidos. Azul da encantadora de baleias, o azul do lápis que acaricia esse papel. O lápis que veio voando pelo gesto carinhoso de um amigo. Rompendo fronteiras. Os sentimentos viajam, estáticos na fluidez do tempo,contrários a direção que estou sendo levada. Quero caminhar rumo ao longe, mas agora a chuva insiste em me mostrar coisas que não quero ver. Inerte em meus pensamentos tão distantes. Sonho, vida, amor e arte. A realidade insiste em me transportar do mundo em que estou agora. Velocidade é o estado da razão. Quero ser livre, viver no mundo que é real dentro de mim. Mundo cheio de cores, cheiros e tons. Curtir e perceber os sinais a minha volta. Para a chuva e me diz que estou no caminho certo. Tempo de voar, viver, sonhar. Distante daqui tão perto de mim. Vou ao encontro daquilo que me chama. E assim, continuo buscando os caminhos que tem coração.

Vida!

Experimentei a sensação de vivacidade. Senti meu corpo.
Enchi os pulmões de ar e senti esse sopro que alimenta minha alma.
Meu pai acariciou meus cabelos através do vento e das gotículas que não cessam em cair. Pássaros e mandalas cantando para mim. Violetas, talvez?
Sensação de plenitude. Vejo que tudo valeu a pena...

Obrigada!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Processos cíclicos

Fim do ciclo material. Auto-retrato. Agosto de 2010. 
 
Depois de tanto tempo sem retornar a este espaço, retorno propondo uma reflexão acerca dos processos e ciclicidade das coisas. Meu objetivo aqui, é refletir sobre a vida e o tempo como um processo, seja ele criativo, poético, efêmero, etc. Antes de prosseguir, retomo o significado destes conceitos - referentes à forma que pretendo discutir:

Processo:    
1. Método, sistema, modo de fazer uma coisa.
Ciclicidade: 
1. Qualidade do que é cíclico - ou referente à ciclo.
Ciclo:
1. Série de fenômenos que se sucedem numa ordem determinada.
2. Parte de um fenómeno periódico que se efectua! durante certo espaço de tempo.

Assim, processos cíclicos poderiam resumir-se em métodos que se repetem em um intervalo específico do tempo? Acho que não é tão simples assim... Jorge Drexler - músico, poeta e mestre na arte de transformar processos em ciclos musicais! - em algumas de suas músicas (como Todo se transforma e Guitarra e Vos), já nos fala sobre a ciclicidade das coisas,

El vino que pagué yo,
Con aquel euro italiano
Que había estado en un vagón
Antes de estar en mi mano,
Y antes de eso en torino,
Y antes de torino, en prato,
Donde hicieron mi zapato
Sobre el que caería el vino.
(DREXLER, Todo se transforma)


Hay manos capaces de fabricar herramientas
Con las que se hacen máquinas para hacer ordenadores
Que a su vez diseñan máquinas que hacen herramientas
Para que las use la mano.
Hay escritas infinitas palabras:
Zen, gol, bang, rap, Dios, fin...
Hay tantas cosas
Yo sólo preciso dos:
Mi guitarra y vos
Mi guitarra y vos.
(DREXLER, Guitarra y Vos)

Ele nos fala sobre o processo das coisas, como o sapato já sujo de vinho, do vinho que foi pago com o euro italiano, que antes esteve no mesmo lugar onde foi feito o mesmo sapato; ou, as mãos que fabricam as ferramentas que fazem as máquinas que por sua vez são manipuladas pelas mesmas mãos que fabricaram as ferramentas... 

Porque eu trago tudo isso? Porque, para mim, Drexler demonstra a ciclicidade dos eventos de forma tão sutil. E nas entrelinhas encontramos aquilo que suscitou a reflexão em mim - e que me fez, de certa forma, compartilhar tudo isso aqui. 

No que me detenho? Na complexidade destes processos cíclicos, na temporalidade e na historicidade humana. Como podemos falar dos processos cíclicos em seres humanos? E destes mesmos processos cíclicos com os objetos manipulados pelos humanos?

Há poucos dias, me senti diante dessa questão. Dia 12 de maio, meu pai estaria fazendo 74 anos, e resolvi ir até a casa em que ele morava, já vazia, mas com algumas coisas ainda encaixotadas. Mexendo nestas coisas, encontrei anotações, bilhetes, reflexões, todas feitas pelo meu pai - em um tempo que o tempo apagou. Estas coisas conversavam comigo, como se meu pai estivesse diante de mim, acariciando meus ouvidos e minha memória com seus dizeres. A casa, já pertencente a um tempo sem tempo, ganhou vida e cor. Naquele espaço - fixo no tempo - acontecimentos atemporais se fundiram em um só. O toc toc do sapato da Mila, confundiu-se com o latido da Toy e o tossir do meu pai. O click da foto feita no sofá misturou-se com o congelamento do instante em que meu pai passava para a casa dos 70, abraçando meu irmão, a Mila, eu e o Claudinho. O corredor, longo e escuro, iluminou-se com o som que invadia a casa, vindo do quarto da frente, em um samba de ritmos, de rocks e blues. O quarto pequeno misturou sensações, desde o café na cama, à Toy pequena fugindo da caminha improvisada de papelão, à Marina fazendo rituais de energias aprendidos com a Débora. E os bons morrem jovens. A voz da minha mãe no telefone misturou-se ao pó que caía ao chão. Um afago, uma bronca, um carinho. Outros tempos, foundue na varanda vazia. A família, os amigos, todos habitando um mesmo espaço em diferentes temporalidades que se misturavam. 
E em meio a tudo isto, a sensação de estar diante daqueles que já foram invadiam meu espírito, tornando impresso na alma aquilo que de fundamental eu aprendi - com eles. Apropriando-me de algumas das palavras que a Mila me disse naquela noite, inicio a (in)conclusão desta reflexão:
Qual é o sentido em que me encontro hoje? Buscando os caminhos que tem coração.
Sigo no processo, envolvida por aquilo que vai, retorna e que se transforma.
Isso é parte da complexidade dos processos cíclicos.
Acho que essa discussão não acaba aí..

Cada uno da lo que recibe
Y luego recibe lo que da,
Nada es más simple,
No hay otra norma:
Nada se pierde,
Todo se transforma.
(Jorge Drexler.)


Links afins: Re-utilize!

O quê estes filmes têm em comum?

O quê estes filmes têm em comum?
"Le fabuleux destin d'Amélie Poulain", "Uma vida iluminada" e "Coisas insignificantes".