Sobre este espaço

Este é um espaço destinado à reflexões acerca da memória, do tempo e de histórias.. Histórias de vida, histórias inventadas, histórias... Um espaço onde a imaginação possa fluir, viajar. Um espaço também para escrever sobre minhas reflexões referentes aos meus estudos sobre arqueologia e antropologia... Antes de mais nada, uma espécie de Diário daquilo que me impulsiona, um lugar para organizar (ou tentar) meus pensamentos.. antes que eles voem por aí.

Boa exploração!

Roberta Cadaval

terça-feira, 20 de abril de 2010

O tempo se mede com batidas

O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração. Os gregos, mais sensíveis do que nós, tinham duas palavras diferentes para indicar esses dois tempos. Ao tempo que se mede com as batidas do relógio – embora eles não tivessem relógios como os nossos – eles davam o nome de chronos. Daí a palavra “cronômetro”.
O pêndulo do relógio oscila numa absoluta indiferença à vida. Com suas batidas vai dividindo o tempo em pedaços iguais: horas, minutos, segundos. A cada quarto de hora soa o mesmo carrilhão, indiferente à vida e à morte, ao riso e ao choro. Agora os cronômetros partem o tempo em fatias ainda menores, que o corpo é incapaz de perceber. Centésimos de segundo: que posso sentir num centésimo de segundo?
Que posso viver num centésimo de segundo? Diz Ricardo Reis, no seu poema “Mestre, são plácidas” (que todo dia rezo): “Não há tristezas nem alegrias na nossa vida”. Estranho que ele diga isso. Mas diz certo: o tempo do relógio é indiferente às tristezas e alegrias.
Há, entretanto, o tempo que se mede com as batidas do coração. Ao coração falta a precisão dos cronômetros. Suas batidas dançam ao ritmo da vida – e da morte. Por vezes tranqüilo, de repente se agita, tocado pelo medo ou pelo amor. Dá saltos. Tropeça.
Trina. Retoma à rotina. A esse tempo de vida os gregos davam o nome de kairós – para o qual não temos correspondente: nossa civilização tem palavras para dizer o tempo dos relógios: a ciência. Mas perdeu as palavras para dizer o tempo do coração.
Chronos é um tempo sem surpresas: a próxima música do carrilhão do relógio de parede acontecerá no exato segundo previsto. Kairós, ao contrário, vive de surpresas. Nunca se sabe quando sua música vai soar.

Rubem Alves in “O AMOR QUE ACENDE A LUA
– Um caso de amor com a vida”


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Etérea.

Desenho: Lidiane Dutra

Esta foi uma homenagem que a Lidi fez pra mim. Aproveito para agradecê-la por ter me escolhido como fonte para um de seus estudos gráficos e para deixar registrado que adorei o resultado! Transcende a minha pessoa! Segundo ela, o nome do desenho é "Roberta etérea"...
Recomendo que leiam o blog dela, está muito bom. 
Aborda várias questões interessantes, lá você encontrará dicas de livros, endereços eletrônicos e principalmente questões relacionadas à arte, filosofia e desenho (seja ele confeccionado pela luz ou pela mão humana!).
Cliquem aqui e confiram!

Abraços etéreos a todos!!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Lembranças de velhos*



Quando assisti esse vídeo pela primeira vez, lembrei-me diretamente de um livro que gosto muito, "Memória e Sociedade: Lembranças de velhos", da *Ecléa Bosi. Recordei um trecho em particular e o qual gostaria de compartilhar...

'A criança recebe do passado não só os dados da história escrita; mergulha suas raízes na história vivida, ou melhor, sobrevivida, das pessoas de idade que tomaram parte na sua socialização. Sem estas haveria apenas uma competência abstrata par lifar com os dados do passado, mas não a memória.
'

Quem, na sua infância, nunca passou horas sentado ao lado do avô ou da avó ouvindo longas histórias... histórias da infância deles, dos tempos de mocidade, e muitas coisas mais? E como sabiam contar histórias... sabiam de todas as coisas! E quando falavam coisas que não entendíamos.. não é que eles estavam certos??
É incrível a quantidade de informações que podemos extrair a partir do relato de "um velho". E ao mesmo tempo, como é maluco pensar que o tempo em que eles viveram seja tão diferente do nosso.. os hábitos, os costumes.. mesmo que seja o mesmo lugar.
Eu tive a oportunidade de conhecer apenas uma avó (a avó materna) e infelizmente ela partiu quando eu tinha 5 anos de idade. Depois, restaram as lembranças, as fotografias e a saudade. Sei que 5 anos é um tempo muito curto, mas o suficiente para deixar grandes marcas dentro de mim. Talvez seja por ela que, hoje, eu tenha tanto interesse em entender a época e o lugar em que ela vivia..

Bom, fico por aqui deixando mais um trechinho do livro da Ecléa, e com ele, um convite à reflexão...

'O narrador é um mestre do ofício que conhece seu mister: ele tem o dom do conselho. A ele foi dado abranger uma vida inteira. Seu talento de narrar lhe vem da experiência; sua lição, ele extraiu da própria dor; sua dignidade é a de contá-la até o fim, sem medo.
Uma atmosfera sagrada circunda o narrador.'

Bibliografia:
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

O quê estes filmes têm em comum?

O quê estes filmes têm em comum?
"Le fabuleux destin d'Amélie Poulain", "Uma vida iluminada" e "Coisas insignificantes".