Sobre este espaço

Este é um espaço destinado à reflexões acerca da memória, do tempo e de histórias.. Histórias de vida, histórias inventadas, histórias... Um espaço onde a imaginação possa fluir, viajar. Um espaço também para escrever sobre minhas reflexões referentes aos meus estudos sobre arqueologia e antropologia... Antes de mais nada, uma espécie de Diário daquilo que me impulsiona, um lugar para organizar (ou tentar) meus pensamentos.. antes que eles voem por aí.

Boa exploração!

Roberta Cadaval

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu não tenho pressa

As coisas em constante movimento e eu estática a observar. Luzes distorcidas, luzes difusas, sons que se misturam ao veludo azul nos meus ouvidos. Azul da encantadora de baleias, o azul do lápis que acaricia esse papel. O lápis que veio voando pelo gesto carinhoso de um amigo. Rompendo fronteiras. Os sentimentos viajam, estáticos na fluidez do tempo,contrários a direção que estou sendo levada. Quero caminhar rumo ao longe, mas agora a chuva insiste em me mostrar coisas que não quero ver. Inerte em meus pensamentos tão distantes. Sonho, vida, amor e arte. A realidade insiste em me transportar do mundo em que estou agora. Velocidade é o estado da razão. Quero ser livre, viver no mundo que é real dentro de mim. Mundo cheio de cores, cheiros e tons. Curtir e perceber os sinais a minha volta. Para a chuva e me diz que estou no caminho certo. Tempo de voar, viver, sonhar. Distante daqui tão perto de mim. Vou ao encontro daquilo que me chama. E assim, continuo buscando os caminhos que tem coração.

Vida!

Experimentei a sensação de vivacidade. Senti meu corpo.
Enchi os pulmões de ar e senti esse sopro que alimenta minha alma.
Meu pai acariciou meus cabelos através do vento e das gotículas que não cessam em cair. Pássaros e mandalas cantando para mim. Violetas, talvez?
Sensação de plenitude. Vejo que tudo valeu a pena...

Obrigada!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Processos cíclicos

Fim do ciclo material. Auto-retrato. Agosto de 2010. 
 
Depois de tanto tempo sem retornar a este espaço, retorno propondo uma reflexão acerca dos processos e ciclicidade das coisas. Meu objetivo aqui, é refletir sobre a vida e o tempo como um processo, seja ele criativo, poético, efêmero, etc. Antes de prosseguir, retomo o significado destes conceitos - referentes à forma que pretendo discutir:

Processo:    
1. Método, sistema, modo de fazer uma coisa.
Ciclicidade: 
1. Qualidade do que é cíclico - ou referente à ciclo.
Ciclo:
1. Série de fenômenos que se sucedem numa ordem determinada.
2. Parte de um fenómeno periódico que se efectua! durante certo espaço de tempo.

Assim, processos cíclicos poderiam resumir-se em métodos que se repetem em um intervalo específico do tempo? Acho que não é tão simples assim... Jorge Drexler - músico, poeta e mestre na arte de transformar processos em ciclos musicais! - em algumas de suas músicas (como Todo se transforma e Guitarra e Vos), já nos fala sobre a ciclicidade das coisas,

El vino que pagué yo,
Con aquel euro italiano
Que había estado en un vagón
Antes de estar en mi mano,
Y antes de eso en torino,
Y antes de torino, en prato,
Donde hicieron mi zapato
Sobre el que caería el vino.
(DREXLER, Todo se transforma)


Hay manos capaces de fabricar herramientas
Con las que se hacen máquinas para hacer ordenadores
Que a su vez diseñan máquinas que hacen herramientas
Para que las use la mano.
Hay escritas infinitas palabras:
Zen, gol, bang, rap, Dios, fin...
Hay tantas cosas
Yo sólo preciso dos:
Mi guitarra y vos
Mi guitarra y vos.
(DREXLER, Guitarra y Vos)

Ele nos fala sobre o processo das coisas, como o sapato já sujo de vinho, do vinho que foi pago com o euro italiano, que antes esteve no mesmo lugar onde foi feito o mesmo sapato; ou, as mãos que fabricam as ferramentas que fazem as máquinas que por sua vez são manipuladas pelas mesmas mãos que fabricaram as ferramentas... 

Porque eu trago tudo isso? Porque, para mim, Drexler demonstra a ciclicidade dos eventos de forma tão sutil. E nas entrelinhas encontramos aquilo que suscitou a reflexão em mim - e que me fez, de certa forma, compartilhar tudo isso aqui. 

No que me detenho? Na complexidade destes processos cíclicos, na temporalidade e na historicidade humana. Como podemos falar dos processos cíclicos em seres humanos? E destes mesmos processos cíclicos com os objetos manipulados pelos humanos?

Há poucos dias, me senti diante dessa questão. Dia 12 de maio, meu pai estaria fazendo 74 anos, e resolvi ir até a casa em que ele morava, já vazia, mas com algumas coisas ainda encaixotadas. Mexendo nestas coisas, encontrei anotações, bilhetes, reflexões, todas feitas pelo meu pai - em um tempo que o tempo apagou. Estas coisas conversavam comigo, como se meu pai estivesse diante de mim, acariciando meus ouvidos e minha memória com seus dizeres. A casa, já pertencente a um tempo sem tempo, ganhou vida e cor. Naquele espaço - fixo no tempo - acontecimentos atemporais se fundiram em um só. O toc toc do sapato da Mila, confundiu-se com o latido da Toy e o tossir do meu pai. O click da foto feita no sofá misturou-se com o congelamento do instante em que meu pai passava para a casa dos 70, abraçando meu irmão, a Mila, eu e o Claudinho. O corredor, longo e escuro, iluminou-se com o som que invadia a casa, vindo do quarto da frente, em um samba de ritmos, de rocks e blues. O quarto pequeno misturou sensações, desde o café na cama, à Toy pequena fugindo da caminha improvisada de papelão, à Marina fazendo rituais de energias aprendidos com a Débora. E os bons morrem jovens. A voz da minha mãe no telefone misturou-se ao pó que caía ao chão. Um afago, uma bronca, um carinho. Outros tempos, foundue na varanda vazia. A família, os amigos, todos habitando um mesmo espaço em diferentes temporalidades que se misturavam. 
E em meio a tudo isto, a sensação de estar diante daqueles que já foram invadiam meu espírito, tornando impresso na alma aquilo que de fundamental eu aprendi - com eles. Apropriando-me de algumas das palavras que a Mila me disse naquela noite, inicio a (in)conclusão desta reflexão:
Qual é o sentido em que me encontro hoje? Buscando os caminhos que tem coração.
Sigo no processo, envolvida por aquilo que vai, retorna e que se transforma.
Isso é parte da complexidade dos processos cíclicos.
Acho que essa discussão não acaba aí..

Cada uno da lo que recibe
Y luego recibe lo que da,
Nada es más simple,
No hay otra norma:
Nada se pierde,
Todo se transforma.
(Jorge Drexler.)


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O quê estes filmes têm em comum?

O quê estes filmes têm em comum?
"Le fabuleux destin d'Amélie Poulain", "Uma vida iluminada" e "Coisas insignificantes".