Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculos as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente. Ao sentir a passagem do tempo nós apercebemos que é preciso viver o momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia. No crepúsculo sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...
Rubem Alves
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Esta atividade foi desenvolvida no primeiro semestre de 2010, como exercício de obervação para a disciplina de Antropologia (do curso que faço, Arqueologia - Bacharelado). Como me interesso pelos processos de envelhecimento, resolvi fazer no asilo de pobres da cidade de Rio Grande... e resolvi então compartilhar esta experiência - que foi bastante intensa e determinante para a minha trajetória enquanto pesquisadora.
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10 de maio de 2010
Segunda-feira, três horas da tarde, chove bastante. Entrei no asilo pela porta lateral, situada na Rua João Alfredo. Conversei com um senhor que estava na portaria e este me encaminhou à secretaria. Ao me dirigir até lá, fui percebendo o ambiente: um prédio antigo, escuro e com muitos velhinhos caminhando pelos corredores, sentados nos sofás. Muitas portas abertas e dentro das peças umas cinco camas aproximadamente. Cheguei à secretária e aguardei uns minutos para ser atendida. Conversei com uma moça, funcionária do asilo, sobre a possibilidade de realizar o trabalho, e falei sobre o interesse em conversar com um responsável pelo lugar e também entrar com contato com os idosos, moradores do local. A funcionária me disse que é difícil encontrar o responsável pelo local, mas que anotaria meu telefone e me ligaria assim que falasse com ele, mas que, com os velhos, eu poderia conversar, nos horários entre 15h30 e 17h30. Sendo assim, parti rumo aos corredores à procura de alguém para conversar... Observei que em cada quarto, as aberturas das portas são grandes e que, na parte superior, todas têm fixado uma placa antiga que consta um número e um ‘nome’ (por exemplo: “5. Theodósio da Silva”). Pelos corredores, alguns sofás, próximo à secretaria, uma sala de ‘TV’. Segui caminhando e parei em uma porta à minha esquerda, onde encontrava-se uma velha senhora sentadinha, lendo um folder ou um pequeno livrinho. Perguntei a ela se poderia conversar e ela, muito simpática, disse que sim, me convidou a entrar e sentar. Me apresentei e logo iniciamos a conversa. Dona Zeni, é natural de Pelotas e reside no asilo à cerca de um ano. Antes de se mudar para o asilo, morou durante 7 anos na Vila da Quinta (bairro de Rio Grande) e relatou com tristeza que sente muita falta do lugar e dos amigos que lá vivem. Ao ser questionada quanto à gostar ou não de viver onde está atualmente, ela respondeu com simplicidade e um pouco de tristeza: “Gosto daqui, gosto das pessoas, me dou bem com todo mundo. Quando acho que não vou me dar bem, eu me afasto da pessoa.” Esta senhora, que no seu olhar transparecia um misto de tristeza e felicidade, foi levada por seu irmão para residir no asilo. De família muito católica, sente falta de ir à missa e às outras atividades da Igreja Católica, e afirma que a forma que encontrou de manter mais próxima ‘de Deus’ na sua atual condição, é ler a Bíblia todos os dias. Há um padre que ‘às vezes’ vai até o salão do local e realiza uma missa, mas o inconveniente, segundo Dona Zeni, é que o horário da missa coincide com o horário do almoço, desta forma se ela vai à missa, perde uma refeição importante (que não é servida depois). O asilo oferece as principais refeições, café da manhã, almoço, café da tarde e janta, mas é em horários específicos e os moradores precisam estar disponíveis de acordo com a organização. Quanto à sua rotina, o tempo é vago e eles tentam preenchê-lo com leituras, conversas e contato com outros moradores. Tem uma sala de TV, onde todos tem acesso livre. Podem ir até o pátio, mas não passar dos portões desacompanhados. Para passear pela cidade é necessário que estejam acompanhados de um familiar ou alguém conhecido. Dona Zeni me contou um pouco sobre a sua vida, falando muito de um tempo em que foi funcionária de um asilo em Pelotas. Senti que ela aceita a condiçlão de estar lá, mas não se sente feliz... Ao me despedir, agradeci a ela por sua dedicação e ela me abraçou muito feliz, dizendo: “Aparece para conversar comigo mais vezes.”
Quando ia saindo, apareceu uma senhora que divide o quarto com Dona Zenir me pedindo para visitar o quarto ao lado, pois lá tinha ‘uma menina’ que queria conversar comigo. Me encaminhou até lá e me deparei com uma situação diferente da anterior. No quarto tinham mais senhoras, um lugar um pouco bagunçado e mais escuro. Numa cadeira de rodas, havia uma senhora com bastante idade que me olhou e disse: “Senta aqui (apontando para a cama) que eu quero saber da tua vida!” Muito simpática, cheia de histórias para contar, Dona Victoria é natural de Santa Maria e descendente de Árabes. Ela relatou que seu pai era árabe e que com os pais conversava um pouco na língua. Disse que hoje já não se lembra de nada porque não tem com quem conversar no idioma. Ela lê bastante para, segundo ela, manter a cabeça constantemente funcionando. Inicialmente ela falava com bastante empolgação sobre o asilo, falando das festas que elas fazem, que as amigas são muito bacanas, os funcionários do lugar e tudo o mais. Em alguns momentos era difícil compreender o que ela dizia, pois falava baixinho e tinham outras pessoas que falavam mais alto no quarto. Então ela se emocionava dizendo: “Papai não deixou eu estudar. Depois me casei e meu marido não me deixou trabalhar. Gostaria que tivesse sido diferente, sempre me interessei pelos estudos da natureza. Gostaria de entender como funciona a terra, como ela dá os frutos, coloridos, de diferentes formatos. É tão lindo de ver. Se eu tivesse estudado e tido uma profissão, eu não estaria aqui hoje.” E ela dizia repetidas vezes a seguinte frase: “A terra nos cria, a terra nos come”. Dona Victoria já vive lá há mais tempo que Dona Zeni, porém ela não soube me precisar uma data. Viúva há alguns anos, foi levada para o asilo por sua filha que reside no Cassino. A filha a visita poucas vezes, pois, segundo a senhora, ‘tem pouco tempo, trabalha demais.’ O filho, mora na Bahia, é casado e tem duas filhas, os quais ela não tem contato constante devido a distância. Ela aguarda um telefonema do filho... e pede a Deus que o rapaz mande notícias. Ela tem muita fé e também é católica. Me disse inúmeras vezes para me agarrar a Deus e nele confiar. Além da leitura, ela disse que constantemente se faz perguntas sobre tudo, para ativar a memória. Dona Victória não sai nem para passear, pois tem problemas nas pernas. Depois de falar muito sobre ela, disse que queria saber da minha vida. Perguntou se eu era casada e se tinha filhos. Recomendou-me ‘encomendar’ uma ‘guriazinha’, pois disse que uma guriazinha é muito bom! Perguntou o que era “Arqueologia e Antropologia” e gostou muito da minha explicação. E sua última pergunta, que me deixou um pouco aflita, foi esta: “Como é a vida lá fora? Como são as pessoas?”
Diante desta pergunta me senti um pouco atônita e confesso que de imediato não soube como responder. Inúmeras sensações me causaram um certo desconforto, tristeza, frustração... Eu pensava: “Estou aqui, realizando um trabalho, para uma disciplina do curso que estou estudando. Ou seja, este momento é uma parcela pequena da minha vida, de tudo o que faço. Enquanto que para ela, aquele momento era muito importante, um contato com o mundo externo. Aquele momento era a vida dela em sua totalidade. Seu mundo se resumia aquele lugar.” Logo, pensei eu a forma de responder traçando um paralelo de como era quando ela estava lá fora. Hoje as pessoas não tem tempo para nada, correm freneticamente para todos os lados e apontam para todas as direções. É difícil encontrar famílias ou pessoas que mantêm uma vida equilibrada, com tempo para trabalhar, para se dedicar à família e ter momentos de lazer tranqüilamente.
Por fim, tive que interromper a conversa, pois aproximava-se das 17h30 e o horário de visita chegava ao fim. Como Dona Zeni, Dona Victória me pediu para voltar. Abracei-a e disse que retornaria com algum livro ou revista, levando informações sobre ‘o mundo’ para ela. Me agradeceu muito e então parti.
Sai pela porta lateral do asilo (a mesma em que entrei). Já não chovia tanto, mas ventava e estava frio. Eu só pensava na condição daquelas pessoas, dependendo de outros para que sua felicidade fosse um pouco maior.
Quanto ao prédio, ainda não obtive informações pois não recebi o contato do vice-presidente – segundo a funcionária que me recebeu, ele é a pessoa que poderia me autorizar a fazer uma investigação maior e me fornecer as informações sobre o funcionamento do lugar e me indicar pessoas para conversar. Desta forma, tive um primeiro contato superficial com o lugar, mas um contato profundo com as pessoas com quem estive. Acredito que pela ‘solidão’ em que se encontram, mesmo em um lugar bastante povoado, cada contato que estabelecem com alguém disposto a lhes ouvir, é muito intenso. Neste momento, é difícil manter uma postura de oposição aos sentimentos, é difícil não se envolver com os pesquisados. Portanto, fiz algumas breves anotações no lugar mesmo, mas esperei para refletir e escrever sobre esta experiência um dia depois, para não ser fortemente influenciada pelos sentimentos que me encobriam ao sair do lugar. Por fim, deixo uma pequena reflexão escrita por Paulo Coelho sobre a velhice...
Segunda-feira, três horas da tarde, chove bastante. Entrei no asilo pela porta lateral, situada na Rua João Alfredo. Conversei com um senhor que estava na portaria e este me encaminhou à secretaria. Ao me dirigir até lá, fui percebendo o ambiente: um prédio antigo, escuro e com muitos velhinhos caminhando pelos corredores, sentados nos sofás. Muitas portas abertas e dentro das peças umas cinco camas aproximadamente. Cheguei à secretária e aguardei uns minutos para ser atendida. Conversei com uma moça, funcionária do asilo, sobre a possibilidade de realizar o trabalho, e falei sobre o interesse em conversar com um responsável pelo lugar e também entrar com contato com os idosos, moradores do local. A funcionária me disse que é difícil encontrar o responsável pelo local, mas que anotaria meu telefone e me ligaria assim que falasse com ele, mas que, com os velhos, eu poderia conversar, nos horários entre 15h30 e 17h30. Sendo assim, parti rumo aos corredores à procura de alguém para conversar... Observei que em cada quarto, as aberturas das portas são grandes e que, na parte superior, todas têm fixado uma placa antiga que consta um número e um ‘nome’ (por exemplo: “5. Theodósio da Silva”). Pelos corredores, alguns sofás, próximo à secretaria, uma sala de ‘TV’. Segui caminhando e parei em uma porta à minha esquerda, onde encontrava-se uma velha senhora sentadinha, lendo um folder ou um pequeno livrinho. Perguntei a ela se poderia conversar e ela, muito simpática, disse que sim, me convidou a entrar e sentar. Me apresentei e logo iniciamos a conversa. Dona Zeni, é natural de Pelotas e reside no asilo à cerca de um ano. Antes de se mudar para o asilo, morou durante 7 anos na Vila da Quinta (bairro de Rio Grande) e relatou com tristeza que sente muita falta do lugar e dos amigos que lá vivem. Ao ser questionada quanto à gostar ou não de viver onde está atualmente, ela respondeu com simplicidade e um pouco de tristeza: “Gosto daqui, gosto das pessoas, me dou bem com todo mundo. Quando acho que não vou me dar bem, eu me afasto da pessoa.” Esta senhora, que no seu olhar transparecia um misto de tristeza e felicidade, foi levada por seu irmão para residir no asilo. De família muito católica, sente falta de ir à missa e às outras atividades da Igreja Católica, e afirma que a forma que encontrou de manter mais próxima ‘de Deus’ na sua atual condição, é ler a Bíblia todos os dias. Há um padre que ‘às vezes’ vai até o salão do local e realiza uma missa, mas o inconveniente, segundo Dona Zeni, é que o horário da missa coincide com o horário do almoço, desta forma se ela vai à missa, perde uma refeição importante (que não é servida depois). O asilo oferece as principais refeições, café da manhã, almoço, café da tarde e janta, mas é em horários específicos e os moradores precisam estar disponíveis de acordo com a organização. Quanto à sua rotina, o tempo é vago e eles tentam preenchê-lo com leituras, conversas e contato com outros moradores. Tem uma sala de TV, onde todos tem acesso livre. Podem ir até o pátio, mas não passar dos portões desacompanhados. Para passear pela cidade é necessário que estejam acompanhados de um familiar ou alguém conhecido. Dona Zeni me contou um pouco sobre a sua vida, falando muito de um tempo em que foi funcionária de um asilo em Pelotas. Senti que ela aceita a condiçlão de estar lá, mas não se sente feliz... Ao me despedir, agradeci a ela por sua dedicação e ela me abraçou muito feliz, dizendo: “Aparece para conversar comigo mais vezes.”
Quando ia saindo, apareceu uma senhora que divide o quarto com Dona Zenir me pedindo para visitar o quarto ao lado, pois lá tinha ‘uma menina’ que queria conversar comigo. Me encaminhou até lá e me deparei com uma situação diferente da anterior. No quarto tinham mais senhoras, um lugar um pouco bagunçado e mais escuro. Numa cadeira de rodas, havia uma senhora com bastante idade que me olhou e disse: “Senta aqui (apontando para a cama) que eu quero saber da tua vida!” Muito simpática, cheia de histórias para contar, Dona Victoria é natural de Santa Maria e descendente de Árabes. Ela relatou que seu pai era árabe e que com os pais conversava um pouco na língua. Disse que hoje já não se lembra de nada porque não tem com quem conversar no idioma. Ela lê bastante para, segundo ela, manter a cabeça constantemente funcionando. Inicialmente ela falava com bastante empolgação sobre o asilo, falando das festas que elas fazem, que as amigas são muito bacanas, os funcionários do lugar e tudo o mais. Em alguns momentos era difícil compreender o que ela dizia, pois falava baixinho e tinham outras pessoas que falavam mais alto no quarto. Então ela se emocionava dizendo: “Papai não deixou eu estudar. Depois me casei e meu marido não me deixou trabalhar. Gostaria que tivesse sido diferente, sempre me interessei pelos estudos da natureza. Gostaria de entender como funciona a terra, como ela dá os frutos, coloridos, de diferentes formatos. É tão lindo de ver. Se eu tivesse estudado e tido uma profissão, eu não estaria aqui hoje.” E ela dizia repetidas vezes a seguinte frase: “A terra nos cria, a terra nos come”. Dona Victoria já vive lá há mais tempo que Dona Zeni, porém ela não soube me precisar uma data. Viúva há alguns anos, foi levada para o asilo por sua filha que reside no Cassino. A filha a visita poucas vezes, pois, segundo a senhora, ‘tem pouco tempo, trabalha demais.’ O filho, mora na Bahia, é casado e tem duas filhas, os quais ela não tem contato constante devido a distância. Ela aguarda um telefonema do filho... e pede a Deus que o rapaz mande notícias. Ela tem muita fé e também é católica. Me disse inúmeras vezes para me agarrar a Deus e nele confiar. Além da leitura, ela disse que constantemente se faz perguntas sobre tudo, para ativar a memória. Dona Victória não sai nem para passear, pois tem problemas nas pernas. Depois de falar muito sobre ela, disse que queria saber da minha vida. Perguntou se eu era casada e se tinha filhos. Recomendou-me ‘encomendar’ uma ‘guriazinha’, pois disse que uma guriazinha é muito bom! Perguntou o que era “Arqueologia e Antropologia” e gostou muito da minha explicação. E sua última pergunta, que me deixou um pouco aflita, foi esta: “Como é a vida lá fora? Como são as pessoas?”
Diante desta pergunta me senti um pouco atônita e confesso que de imediato não soube como responder. Inúmeras sensações me causaram um certo desconforto, tristeza, frustração... Eu pensava: “Estou aqui, realizando um trabalho, para uma disciplina do curso que estou estudando. Ou seja, este momento é uma parcela pequena da minha vida, de tudo o que faço. Enquanto que para ela, aquele momento era muito importante, um contato com o mundo externo. Aquele momento era a vida dela em sua totalidade. Seu mundo se resumia aquele lugar.” Logo, pensei eu a forma de responder traçando um paralelo de como era quando ela estava lá fora. Hoje as pessoas não tem tempo para nada, correm freneticamente para todos os lados e apontam para todas as direções. É difícil encontrar famílias ou pessoas que mantêm uma vida equilibrada, com tempo para trabalhar, para se dedicar à família e ter momentos de lazer tranqüilamente.
Por fim, tive que interromper a conversa, pois aproximava-se das 17h30 e o horário de visita chegava ao fim. Como Dona Zeni, Dona Victória me pediu para voltar. Abracei-a e disse que retornaria com algum livro ou revista, levando informações sobre ‘o mundo’ para ela. Me agradeceu muito e então parti.
Sai pela porta lateral do asilo (a mesma em que entrei). Já não chovia tanto, mas ventava e estava frio. Eu só pensava na condição daquelas pessoas, dependendo de outros para que sua felicidade fosse um pouco maior.
Quanto ao prédio, ainda não obtive informações pois não recebi o contato do vice-presidente – segundo a funcionária que me recebeu, ele é a pessoa que poderia me autorizar a fazer uma investigação maior e me fornecer as informações sobre o funcionamento do lugar e me indicar pessoas para conversar. Desta forma, tive um primeiro contato superficial com o lugar, mas um contato profundo com as pessoas com quem estive. Acredito que pela ‘solidão’ em que se encontram, mesmo em um lugar bastante povoado, cada contato que estabelecem com alguém disposto a lhes ouvir, é muito intenso. Neste momento, é difícil manter uma postura de oposição aos sentimentos, é difícil não se envolver com os pesquisados. Portanto, fiz algumas breves anotações no lugar mesmo, mas esperei para refletir e escrever sobre esta experiência um dia depois, para não ser fortemente influenciada pelos sentimentos que me encobriam ao sair do lugar. Por fim, deixo uma pequena reflexão escrita por Paulo Coelho sobre a velhice...
Ana Cintra conta que seu filho pequeno,
com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra,
mas ainda não entendeu seu significado, perguntou-lhe:
"Mamãe, o que é velhice? "
Na fração de segundo antes da resposta,
Ana fez uma verdadeira viagem ao passado.
Lembrou-se dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções.
Sentiu todo o peso da idade e da responsabilidade em seus ombros.
Tornou a olhar para o filho, que, sorrindo, aguardava uma resposta.
"Olhe para o meu rosto, filho" , disse ela.
"Isto é a velhice".
E imaginou o garoto vendo as rugas e a tristeza em seus olhos.
Qual não foi sua surpresa quando,
depois de alguns instantes, o menino respondeu:
"Mamãe! Como a velhice é bonita!"
Paulo Coelho
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