Este é um espaço destinado à reflexões acerca da memória, do tempo e de histórias.. Histórias de vida, histórias inventadas, histórias... Um espaço onde a imaginação possa fluir, viajar. Um espaço também para escrever sobre minhas reflexões referentes aos meus estudos sobre arqueologia e antropologia... Antes de mais nada, uma espécie de Diário daquilo que me impulsiona, um lugar para organizar (ou tentar) meus pensamentos.. antes que eles voem por aí.
Bem vindo seja este Outono, trazendo consigo novos ciclos, novas oportunidades e possibilidades. Para tal, que Astor Piazzolla abra esta estação que vem para o aconchego, para aquecer o friozinho que tarda em chegar. À apreciação das folhas secas e amarelas, do ventinho que insistirá em soprar e das árvores que bailam mostrando seus braços galhos secos. Que saibamos apreciar a sinfonia desta estação!
Hoje a lua quis brincar de esconder. Saí para ver o mundo, mas a lua não estava lá. Valeu a pena de qualquer jeito. Vi luzes de todas as cores, bolinhas amarelas que brilhavam, outras vermelhas que formavam curvas, linhas em movimento. Vi crianças correndo e, entre folhas e flores, pai e filho andando de bicicleta. Vi velhinhos caminhando e cães passeando com seus donos. Fluxos em múltiplos passos. Ouvi a alegria por entre as risadas, pessoas curtindo uma noite estrelada , mesmo sem que houvessem estrelas no céu. Senti o outono chegando, mesmo com a temperatura elevada. Andei sorrindo e sentindo paz. Mesmo assim, insisti em procurar a lua... que não aparecia. Duas estrelinhas piscaram pra mim e uma delas me falou sobre uma nuvem passageira. Foi então que percebi a presença da lua. Ela brincava de esconde-esconde e me dizia que eu deveria sentir e não buscar enxergá-la apenas. Ela estava lá, mirando-me, sem que eu pudesse avistá-la. Ensinando-me que mesmo longe, mesmo que eu não pudesse vê-la, ela jamais deixaria de sorrir para mim.
Já faz tempo que não paro para viajar em mim. Mergulhar dentro de mim mesma, extraindo o que houver de belo, de paz. Agora, estudando e escutando "Adios Nonino" de Astor Piazzolla, senti uma necessidade/desejo/vontade de escrever. A música se encerra e eis que insisto em pô-la outra vez. Aqui, escrever, sentir e sonhar são sinônimos. Escrever o sentimento que brota do sonho desperto pela música. Um instrumental que fala, tocando a alma. Como o entardecer de domingo, que não precisa de letra para ser entendido. Eu falo entrelinhas, sinto a harmonia e me entrego às canções. Canções que calam, que no silêncio vibram, fazendo-se sentir. Invento significados e crio meus mundos. Hoje li um texto da Martha Medeiros, no qual ela falava algo como "Sempre me senti diferente das outras pessoas.. Acho que sinto diferente". Eu também acho que sinto diferente. As palavras não conseguem exprimir esse diferente, esse sentir singular. Mas a música sim. A música chega aos sentidos e fala sem que precise ser anunciada ou explicada. A gente sente e pronto. "Adios Nonino" me provocou, me causou saudade. Me fez sentir a presença do meu pai, que tanto ouvia Piazzolla. Me fez estabelecer conexões, entre outros sons, outros tons, outros sentires.. outros viveres. Em um entardecer de domingo, músicas me tocaram a alma, me causaram saudade, me fizeram voltar a escrever.
*Versão de Adios Nonino que inspirou/provocou "Por um instrumental que fala":
"Le fabuleux destin d'Amélie Poulain", "Uma vida iluminada" e "Coisas insignificantes".
Quem sou eu
Roberta Cadaval
Sou alguém que precisa voar e dar asas a imaginação... sempre! Às vezes preciso colocar os pés no chão e fixar-me em alguns mundos, algumas realidades. Meu mundo é composto de diferentes dimensões e estou sempre em busca da minha verdadeira essência e daquilo que é essencial.
Minha trajetória acadêmica consiste em diferentes vôos e pousos: graduada em Artes Visuais - Licenciatura pela FURG e mestre em Antropologia pela UFPel. A fotografia, a poesia, a música, a natureza e a espiritualidade são as palavras que definem aquilo que me transborda, virando tema para as postagens que compõe este espaço. Boa viagem!